28.7.08

O Amor e Você

Vivemos numa sociedade que idealiza o amor como algo magico.

Aí, você, por mais descrente que seja desse assunto… Você que nem lembra que dia 12 de Julho é dia dos namorados, ou que nem sabia que tem gente que chantageia imagem de santo em troca do tal amor eterno. Você que passa ao lado de um casal de namorados se beijando, e pensa que é tudo putaria. Meu, você que ainda esses dias falava que ia ser solteiro para sempre.

Você mesmo, da noite para o dia, muda de opinião… Acha o máximo, que as pessoas te chamem de hipócrita. Gosta mais ainda quando elas jogam na tua cara que você está apaixonado. Aí vem aquela vontade louca de gritar para o mundo que você está apaixonado. Não passou nem uma semana e A, B e C já sabem do seu novo amor, alias o abecedário inteiro já sabe… você fez questão de contar, ou deixar que eles percebessem.

É, nem parece, mas a um mês atrás, aquele seu amigo chegou do seu lado e disse que aquele outro amigo, aquele mais alto do grupo, o mais divertido, o mais bonito… andava perguntando muito de você, queria te conhecer. Você, que nessa altura andava convicto que seria solteiro para sempre, olhou para ele, riu… Achou meio tolo, o amigo em comum de vocês querer fazer de cupido. E continuou a dançar, ele se quisesse que se viesse apresentar…

Mas nessa noite você chegou em casa e a ultima imagem que veio a sua cabeça antes que caísse no sono pesado, foi aquele menino, alto, bonito, rindo… que se destacava do resto daquela multidão. A multidão era toda igual, ele era diferente… E os dias foram se passando, vocês sempre se encontrando nas baladas, e mesmo você tentando se fazer de desinteressado, toda vez que o via, lembrava da primeira vez que o havia visto, lembrava até da roupa que ele estava vestindo.

Até que passado um mês, você resolve, que talvez seja altura de tentar se aproximar do tal rapaz, começar uma conversa. Então você encontra ele na balada, você vai dançar perto dele, e pensa em mil maneiras de aborda-lo, mas todo vez que tenta, parece que seu corpo paralisa e sua voz some. Aí, você se acha estúpido por estar com medo de rejeição… você experimenta aquela sensação que não experimentava desde que tinha 15 anos. Você se sente um adolescente outra vez. E faz o que todos os adolescentes fazem, manda mensagem ao amigo em comum de vocês e diz que quer muito falar com ele, mas não sabe o que dizer…

Vocês começam a falar. E você só se pergunta porque não falou com ele mais cedo. Vocês têm mil coisas em comum, são simpáticos, engraçados, bonitos. Aí, você pensa que seriam perfeitos juntos… Vocês se beijam, porque você lá no fundo queria provar que ninguém é perfeito, ele era bom demais para beijar bem, só podia ser esse o defeito.

Mas não era! Ele beija bem e muito bem. Alias, o beijo é tão espetacular, que vocês pareciam ensaiados.

Vem a primeira semana, que é incrível. Vocês não transam na primeira oportunidade, o que torna tudo muito mais interessante. Vocês não conseguem se desgrudar, passam o máximo de tempo juntos, o número de mensagens e ligações recebidas no seu telefone aumentam, vocês passam horas nisso. De repente, os outros caras começam a parecer tão desinteressantes… Insípidos.

Aí, vem a primeira briga, você se arrepende de tudo que disse, pede desculpas, se martiriza durante um final de semana todo, bebe uma garrafa de vinho sozinho em casa enquanto fuma um maço de cigarros e disserta sobre tudo que aconteceu com seus amigos mais próximos. No dia seguinte você acorda, e se sente idiota. Você estava bêbado, ele sem bateria no telefone. Obvio que nada ia se resolver, vocês conversam, percebem que tudo foi um mal entendido, riem da situação. Passam todo um dia arranjando formas rebuscadas de dizer um ao outro o quanto querem estar juntos.

Passa mas algum tempo, as coisas esfriam. Você se convence de que tudo isso é normal. Aí no dia que você menos espera, as coisas reacendem, vocês fazem ótimo sexo, correm perigos, tudo pelo tesão que sentem um pelo outro. Mas no dia seguinte, vocês vão juntos pra balada, ele distante, você confuso. A noite passa, vocês não trocam beijos, não seguram as mãos. Toda vez que um tenta se aproximar o outro está distraído demais pra perceber. Você nota o quanto foi ignorado durante toda a noite. Se sente mal. Ele te leva em casa, vocês mal se despedem no carro. Murmuram um “boa noite” e pronto.

Passa um dia, ele pede desculpas, por sms. Você acha a mensagem fria. Não dorme essa noite, como não havia dormido na outra, pesando tudo que aconteceu até então, lembrando de tudo e imaginando mil maneiras de conversar com ele, de abordar o assunto. De dizer que entende, que todos tem dias maus. Mas o que importa é serem sinceros.

Você escreve na esperança de extravasar o que sente. E a cada palavra, suplica para que essa seja mais uma cisma sua, suplica para que tudo passe sem deixar vestígios. E espera, pela conversa. E mais ansiosamente ainda, para que o fim dessa conversa seja como você imaginou naquelas horas de sono que perdeu, que tudo termine entre beijos e promessas de amor eterno. Porque o que você quer mesmo é afastar o pensamento de que as coisas podem, talvez, chegar ao fim.

E você, hein? Você que se dizia solteiro eterno. Você que escreveu esse texto, ou você que leu e não pode deixar de se identificar com certas linhas. Você que até balançou de leve a cabeça, como quem diz: “sim, eu entendo bem o que é isso”. Meu, você, hein? No final, você também acredita que o tal do amor existe. E embora não perceba bem onde foi parar aquele céptico, não se importa muito com isso, porque mesmo sofrendo de tempos em tempos, você percebe que é uma pessoa melhor enquanto sofre de uma patologia chamada amor.


Atenciosamente, O Chapeleiro.

2 comments:

Anônimo disse...

é IMPOSSÍVEL não se identificar com esse texto. Quem já namorou de verdade, quem já se apaixonou e até mesmo quem já se entregou e mergulhou de cabeça num relacionamento consegue exprimir desse conto as particularidades mais similares consigo mesmo.

Anna Oh! disse...

Pois é, o amor às vezes faz esse tipo de coisa com a gente; caímos na mais deliciosa contradição. às vezes eu, com tonha minha racionalidade de solteira convicta, acho que essas pequenas atitudes de vulnerabilidade e d se sujeitar ao outro sejam alguma coisa como uma auto-estima baixa, o q às vezes acontece... às vezes não, ceder é uma forma de ser maleável e querer fazer com que as coisas vão pra frente, é botar fé em si e no outro.
A gente é contraditório e o amor tb.